Em a noite de 22 de
Setembro do ano de 1876 o vapor alemão “Germania”, procedente da Europa,
encalhou no arrecifes jacentes á entrada da bahia, cêrca do forte de Santo
Antônio da Barra. Não foi a primeira embarcação que ali se perdeu. Nem seria a
última. Salvaram-se facilmente tripulantes e passageiros, mas a carga sofreu
enormes avarias, ocasionando vultoso prejuiso ás companhias de seguros.
Tão perto de terra
ficou o vapor sinistrado que, pêla baixa-mar, podia-se ir a pé até junto do
mesmo, cujo casco não poude ser salvo, muito embora ingentes esforços houvessem
sido empregados nesse sentido. Uma boia assinala até hoje o lugar do naufrágio.
Ora, naqueles tempos em
que a vida da cidade escoava-se pacata e monótona, por mezes a fio, um
acontecimento dessa ordem era tema excelente para conversas e comentários de
toda especia, dando origem a boatos e invencionices de toda casta. E não foram
poucos os que se bordaram em derredor do naufrágio do Germania.
Disseram, por exemplo,
que o comandante do paquete estava embriagado no momento do desastre. Porqu,
raciocinava-se só um indivíduo ébrio levaria o navio para cima dos parceis, tão
proxmos á terra, tratando-se, além de tudo, de velho marujo, que conhecia o
pôrto desde largos anos.
Na bôca do povo andou
mais a seguinte história. Ás vésperas da chegada do vapor, o faroleiro de
Itaspoã foi procurado á noite por um sujeito cuidadosamente embuçado, o qual lhe
prometeu avultada gratificação se em determinado dia nã acendesse o farol. O
homem pensou maduramente, acabando por lhe dizer que voltasse no dia seguinte.
Cedo, procurou a casa
do seu protector, o tenente-coronel José Felix da Cunha Menezes, mais conhecido
por Dudú de Itapoã, e comandante de um dos batalhões de guardas nacionaes da
capital referindo-lhe quanto se passara. Aconselhou-o esse a não aceitar
semelhante proposta, pois tratar-se-ia indubitavelmente, de alguma bandalheira,
ou, talvez, de algum crime. E que fôsse levar o caso á polícia.
O embuçado não voltou a
procurar o faroleiro. Adivinhou…
Pois bem, á noite em
que o Germania deu sôbre as pedras, procurando entrar na bahia, o farol de
Santo Antonio da Barra estava apagado…
Voz do povo voz de
Deus. Muita vez, porém, é rinchavelhar do Pé-de-Cabra. Eu t’arrenego…
SILVA CAMPOS. João da. O naufrágio do "Germania". In:
_____. Tradições Bahianas – Separata da
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia nº 56, 1930. Bahia:
Secção Graphica da Escola de Aprendizes Artífices, 1930, p. 62-63.
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